Folha PE: Sandy, caçadora de si

06/05/2010 14:00

 “Estou sempre procurando quem eu sou”. Essa eterna caçadora de si é Sandy, logo no início do documentário “Sandy em Tempo”, de Fernando Andrade, que muito provavelmente você não vai assistir no próximo Cine-PE ou em qualquer mostra da 7ª arte. Trata-se, na verdade, de uma ação promocional da gravadora Universal para ajudar na divulgação da, certamente, sua maior aposta do ano: o lançamento de “Manuscrito”, disco que marca a estreia solo da cantora e seu retorno depois de dois anos de profunda reclusão.

 Desde que resolveu encerrar as atividades ao lado do seu irmão, Junior, em 2007, Sandy tomou o tempo e o mundo para si. Casou com o músico Lucas Lima, constitui uma família reclusa, dentro de um lar só seu. “Aprendi que deve existir um espaço que é só meu, onde não posso deixar ninguém entrar. Como um quarto, onde eu vou guardando o que me é fundamental e só diz respeito a mim mesma”, anuncia a cantora, para logo em seguida surgir no vídeo em uma mesa de restaurante sendo incomodada por fãs ávidos por autógrafos e fotos. “Pelo menos eu ainda não estava jantando, né? Senão, teria pedido para atendê-los depois de comer”, frisa.

 Esse é um exemplo dos tipos de limites frouxos que existem na vida de uma estrela como Sandy. Talvez por causa deles, o início do documentário serve mesmo para deixar claro que ela está querendo passar para uma nova etapa, que precisa ser sustentada em qualquer imagem que não a da boa moça apática que gravava versões de Celine Dion ou da eterna criança que um dia entoou uma inocente “Maria Chiquinha”. Deixa claro que foi bastante traumático ter que gravar a música dos “Power Rangers”, quando já era uma pré-adolescente, e que fez aquilo porque começava a entender que era o tipo de música que fazia vender disco. Eis a pequena Sandy compreendendo a indústria cultural.

 E não para por aí: diz não ter nenhuma religião, apesar de toda sua família ser católica praticante. Afirma não concordar com muito do que prega a Igreja Católica, defende o uso da camisinha e o prazer sexual. A razão para tantos assuntos periféricos como esses, porém, é compreensível: “Manuscrito”, por si só, fala muito pouco sobre essa “nova” Sandy. Afinal, ela precisa ser apresentada não apenas artisticamente, mas também como uma mulher de 27 anos que está tentando construir uma identidade contundente com seu novo momento, que lhe rendeu até novos cabelos.

 Talvez por isso a palavra mais usada pela cantora nesse vídeo institucional seja “meu”. “‘Manuscrito é um disco muito meu. Com ele estou começando a me apropriar da minha vida artística. É o meu estilo, estou fazendo as coisas do meu jeito e da forma como julgo que é certo. Já tenho 19 anos de carreira, e com ela acho que consegui liberdade suficiente para, hoje, fazer o que quero. Pode soar egoísta, mas acho que merecia fazer um disco para mim”.

 Acostumada a vender milhões ao invés de mil, Sandy se diz consciente que o público pode não entender seu novo trabalho, que preza por arranjos minimalistas e certa melancolia. “Hoje só tenho que provar alguma coisa para mim mesma. Mas fico pensando: e se esse disco não emplacar? Como vou reagir se isso acontecer? Na teoria estou disposta a lidar com esse risco, mas, na prática, não sei como vai ser...”, confessa, apreensiva, como se, no fundo, não soubesse que a fidelidade de fãs é o que não permite que estrelas pop declinem. Mesmo quando elas merecem.

Fonte: Folha de Pernambuco